sábado, 7 de maio de 2016

Leituras e Devaneios: de Shakespeare, um soneto...




William Shakespeare é até hoje um dos nomes mais lembrados da literatura inglesa, o poeta e dramaturgo deixou uma vasta obra de clássicos atemporais que continuam sendo difundidas, adaptados e reinterpretadas durante séculos. 


Também considerado como o pai da língua inglesa moderna, Shakespeare além das grandes peças teatrais deixou uma coleção de sonetos que também refletem seu grande talento como poeta. E este será o principal ponto da presente discussão, apresentar as características formais de um soneto shakespeariano bem como seu tema. Como matéria da presente análise será utilizado o soneto 71.

Soneto 71 - William Shakespeare

Quando eu morrer não chores mais por mim
Do que hás de ouvir triste sino a dobrar
Dizendo ao mundo que eu fugi enfim
Do mundo vil pra com os vermes morar.

E nem relembres, se estes versos leres,
A mão que os escreveu, pois te amo tanto
Que prefiro ver de mim te esqueceres
Do que o lembrar-me te levar ao pranto.

Se leres estas linhas, eu proclamo,
Quando eu, talvez, ao pó tenha voltado,
Nem tentes relembrar como me chamo:

Que fique o amor, como a vida, acabado.
Para que o sábio, olhando a tua dor
Do amor não ria, depois que eu me for. 


Muito se especula sobre do que se tratam os sonetos, ou para quem seriam escritos, pois estes se diferem notavelmente dos demais escritos em sua época, o soneto 71, por exemplo, foi escrito por William Shakespeare na fase que abrange o soneto 18 até o soneto 126 onde Shakespeare se dirige a um jovem, The Young man, sobre o poder destrutivo do tempo, que é contrariado pela força do amor e da poesia. 


O soneto 71 caracteriza bem essa fase, pois o autor expressa o que deseja que façam ou não depois que ele morrer querendo apenas que o ser amado esqueça-se do amor e de quem ele era, para que não seja causado sofrimento pela sua partida. 

É uma espécie de consolo feito pelo poeta que acredita que poderá morrer antes de seu amado, e pede para que o mesmo se esqueça dele após este fato, e até mesmo se desfaça do amor que existia, sem sofrimentos, pois lembrar do amor seria mais um motivo para deixa-lo triste e fazer com que as outras pessoas pensem que o amor e todos envolvidos com ele são tolos. 


O desenvolvimento do tema dentro do soneto acontece nas três primeiras estrofes, onde somos apresentados ao tema (a morte do poeta) que será mais bem detalhado (coisas que o Young man deve agir diante da morte do poeta) e concluído nos dois últimos duetos ( não sofrer pela morte, e esquecer-se do amor.) 

Sobre os elementos formais deste soneto, assim como os demais, este é construído de acordo com o Iambic Pentameter com versos decassílabos que apresentam padrão de rima abab cdcd efef gg, também conhecido como o padrão Shakespeariano.


                                      

Mais sobre o soneto Shakespeariano....

ESTRUTURA BÁSICA DA COMPOSIÇÃO

O Soneto Inglês ou Shakespeariano deve obedecer, para os versos a seguinte estrutura:

Ter um conjunto de 14 versos, dispostos numa única estrofe (monostrófico), com um dístico final, separado por dois espaços para diferencia-lo do restante da construção do SONETO INGLÊS. Podemos chamar os 12 primeiros versos de espaço para DESENVOLVIMENTO DA IDEIA do poema; já o dístico final (conjunto de 2 (dois) versos – denominado pelos ingleses de “couplet”) como a CONCLUSÃO da ideia do poema.
METRO E RITMO

Todos os versos possuem METRO DECASSÍLABO (verso com 10 sílabas poéticas) utilizando o PENTÂMETRO JÂMBICO, que é composto por cinco pés, sendo cada pé um jambo - transferindo para uma linguagem mais simples podemos dizer assim: utiliza-se uma sílaba poética átona seguida de uma sílaba poética tônica (acentuada), por 5 (cinco) vezes seguidas em cada verso até formar, por completo, o verso Decassílabo Shakespeariano: o PENTÂMETRO JÂMBICO, que visualizando dá este esquema RÍTMICO:

U – U – U – U – U –  (U sílaba fraca; – sílaba forte).

Esta estrutura de verso é possível de se realizar, com maior facilidade, no idioma Inglês porque este possui boa quantidade de vocábulos monossílabos e dissílabos; o que no nosso idioma acontece em menor quantidade. Esta menor quantidade de vocábulos monossílabos e dissílabos traz maior dificuldade ao poeta, que escreve em Português, na criação do Pentâmetro Jâmbico.

OBSERVAÇÃO: Shakespeare não tinha a preocupação de manter este esquema rítmico em todos os versos. Ele, às vezes, transgride a regra do Pentâmetro Jâmbico, em algum verso do Soneto Inglês.

Esta afirmação fica clara na dificuldade da tradução, para o Português, dos Sonetos de Shakespeare, onde, os tradutores precisam aclimatar, a maior possibilidade de idéias, por conta do maior número de vocábulos monossílabos e dissílabos presentes no verso decassílabo em Inglês, em um verso, com vocábulos equivalentes no Português: trissílabos e quadrissílabos.


Curtiram?! Qual é o soneto de Shakespeare que você mais gosta? Deixe seu comentário e até a próxima!


referência: http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/2062310